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O inicio de algo/ O inicio de nada

3:30 da Manhã.
Algo estala dentro dele. O mundo borrado e o hálito amargo de vinho não ajudam, mas algo estala dentro dele. A urgência, a dúvida, o descontrole, um estalo impreciso munido de muitos fatores...
Sua vida está recheada de flashbacks indecisos e seus sonhos se dissipando na fumaça dos tempos.
O estalo é sinal das coisas que estão por vir, do Homem que está pra nascer. Porque Algo nasceu. Aquele estalo, aquele ímpeto mal-criado, foi o prelúdio de um novo conto no rio de sua jornada, foi algo a mais, um ponto contra a mediocridade. Na falta do cobertor, é a madrugada que o envolve, protegendo da fria miséria que é sua existência, ele sente e sabe os seus objetivos, ele vê o quão nada tem sido seu rumo, e ele vê com clareza seus erros. Ele não se arrepende de jeito algum, ele não derrama nenhuma lágrima, ele apenas se apoia na sua tristeza de infância, um fardo já pesado, um drama não superado, e hoje, só hoje ele quer descontar no mundo, ele quer ser mesquinho, ser comum, ser idiota.
Hoje ele quer vingança, bater no mundo com sua outra face, engolir o sangue que cuspiram nele, mostrar ao mundo a nódoa feia que foi criada, hoje ele não quer beber um café, quer o descontrole da irracionalidade, como um animal imundo, a sinceridade, quer vencer a vida, reivindicar a morte, beijar a poesia, de um jeito quase difamatório.
Aquele estalo já o havia mudado de formas cruéis, lhe pedia o sangue da sua linhagem, lhe pedia, acima de toda selvageria, paciência e prudência; essa que ele via faltar nos bêbados, nas moças dramáticas pseudo-poéticas, nos donos da razão e em todos aqueles que ele mesmo julgava. Se fosse dono do poder, hoje mesmo acabaria com tudo, dizimaria com todas as vidas, mesmo a sua, que de nada valia, e tudo daria num denso escuro. Não fosse aquele estalo, que sabia ele era um surto de revolta, dormiria tranquilo e acordaria também. Com aquela sensação estranha ele foi dormir inquieto, e acordou sem lembrar de nada, sorrindo de forma medíocre seu sorriso amarelo.

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